plural

PLURAL: os textos de Suelen Aires Gonçalves e Silvana Maldaner

  • Um vírus, duas pandemias*
    Suelen Aires Gonçalves
    Socióloga e professora universitária

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    Estamos diante de um vírus e de duas pandemias. Enfrentamos a Covid-19, mas vivenciamos, conjuntamente, a pandemia da violência contra as mulheres em níveis globais e regionais. Os crimes contra a vida das meninas e mulheres é uma constante na realidade brasileira e precisamos denominá-la. Ela é fruto das relações de poder construídas historicamente, em que homens acreditam que sua humanidade é maior do que as mulheres.

    No último 8 de março, a Lei dos Feminicídios completou seis anos no Brasil. Observamos, pelo perfil dos feminicidas, que os autores, são homens com pouca capacidade emocional de saber lidar com frustrações, com términos de relacionamentos, e, em última instância, exercem violência com demonstração de poder sobre outra vida. Nossa experiência brasileira com a produção de leis para o enfrentamento da violência contra as mulheres é um marco das primeiras décadas do século 21. Em 2006, com a Lei Maria da Penha, em 2015, com a tipificação do feminicídio, definido como um homicídio em contexto de violência doméstica/ familiar ou em decorrência do menosprezo ou discriminação à condição de mulher, tornam se referências regionais e globais.

    Os feminicídios se iniciam com ameaças e violências diversas. Precisamos identificá-las, a fim de evitar esse crime brutal contra nossas meninas e mulheres. Neste contexto de diversas crises, da sanitária à política, nós, mulheres, estamos vulneráveis e desassistidas de políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres em nosso país, Estado e municípios. Neste contexto de brutal ataque às políticas públicas como um todo, e especial, as políticas públicas para as mulheres, contamos com uma experiência de referência no Rio Grande do Sul , mais especificamente na cidade governada pelo prefeito Ary Vanazzi (PT), São Leopoldo.

    São Leopoldo é uma das primeiras cidades com organismos de políticas públicas desde a década de 2000, sendo um dos dois municípios do Estado do Rio Grande do Sul que conta com a Secretaria de Políticas para Mulheres na estrutura administrativa. Apesar de todo o retrocesso a nível nacional e estadual, a cidade concentra esforços na capacitação de profissionais, na articulação em rede e no desenvolvimento de metodologias de atenção nos mais diversos segmentos da gestão pública, em diálogo com as instituições policiais, do sistema de justiça, das universidades e das relações comunitárias dentre outras. 

    Precisamos de políticas públicas que contemplem as necessidades locais, que sejam eficazes na preservação da vida e da dignidade das meninas e das mulheres. Que tenham transversalidade real com a vida das mulheres, a garantia de segurança alimentar e nutricional, no combate à fome, além da garantia de acesso a políticas sociais e ao enfrentamento da violência endêmica e estrutural vigente em nosso país. 

    Pela vida das mulheres, seguiremos!

    *Este artigo foi originalmente publicado na página 20 da edição de quinta-feira, 11 de março de 2021.

    Quais as vidas importam?
    Silvana Maldaner
    Editora de revista

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    Nem todas as mulheres podem ser mães. Algumas jamais poderiam ter esta bênção.

    Ser mãe exige muito mais que uma gestação de nove meses ou trocar as primeiras fraldas.

    Amar, educar, entender e respeitar o novo ser que nasceu, com o enfoque nas necessidades da sua formação, exige desapego, generosidade, tempo e amor incondicional frente às imperfeições. 

    Mãe de verdade, não precisa ter o mesmo sangue. A mãe de verdade é aquela que estabelece o vínculo do amor, da proteção e acima de tudo, permite abrir as janelas para o mundo.

    Mas quais janelas abrimos para nossas crianças?

    Quais as violências que estamos submetendo e que serão perpetuadas e revividas?

    Quais os traumas que conseguem ser superados e quais as marcas registradas na alma de uma pessoa?

    É possível amar se nunca foi amado?

    É possível respeitar se nunca foi respeitado?

    Ficamos chocados com tamanha perversidade de mães coniventes, submissas ou omissas aos maus tratos da violência infantil.

    Quantos casos iguais ao da Isabela Nardoni, Bernardo Boldrini, Rhuan Castro e Henry Borel? Quantos casos de abuso sexual, tortura física ou psicológica que nem viraram notícia no país, e acontecem todos os dias, na periferia ou em casas abastadas?

    O caso do menino Rhuan Maycon da Silva Castro, de 9 anos, ocorrido no Distrito Federal, passa de todos os limites de crueldade humana. A mãe Rosana Auri da Silva Candido e sua companheira Kacyla Damasceno Pessoa, torturavam o menino desde os 4 anos de idade. A própria mãe confessou que sentia profundo ódio por ele e pela família do pai dele. Elas, inicialmente, castraram e emascularam o menino, impedindo qualquer atendimento médico. Testemunhas relatavam que ele sofria abusos constantes. O seu assassinato foi cruel e macabro. Morreu esquartejado e colocado em uma mala, presenciado pela menina de 8 anos, filha da Kacyla.

    Quais os danos que esta criança terá para a sua vida adulta, afetiva, social e sexual? Conviveu desde pequena com a mãe que, junto à companheira, mutilou o menino. Não há terapia que resolva uma vida marcada pela violência. Filho não é um produto, não pode ser negociado, ou ser o saco de pancada para aliviar o estresse do dia.

    Quantas mães permitem relacionamentos abusivos por interesses financeiros ou são coniventes com companheiros ou companheiras psicopatas?

    Parece que a sociedade protetora dos animais tem agido de forma mais eficaz do que a sociedade protetora das crianças. Quais as vidas importam?


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